03/06/2022 - 11:10
Por Letícia Kutzke, do Sindsep
Desde o início de 2017, quando o Sindsep tomou conhecimento das “Novas diretrizes de reorganização da estrutura do SAMU” e do projeto “Samu linhas do cuidado”, que os representantes dos trabalhadores vêm chamando a atenção da população para a descaracterização do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência.
Em fevereiro de 2019, foi publicada em Diário Oficial a portaria 190, descentralização das equipes assistenciais do Samu, que deu início ao desmonte do serviço. As bases modulares foram transferidas para unidades de saúde, sem nenhuma estrutura, ou insalubres, e em sua maioria acarretara na demora no tempo resposta para o atendimento.
Sindsep promoveu uma grande mobilização junto com os trabalhadores do Samu. Atos, caminhadas, paralisações, participação em audiências públicas, no entanto, a descentralização continuou e ao longo desses anos vimos o desmonte e precarização do serviço aumentando.
Na semana passada, o programa Brasil Urgente, da TV Bandeirantes, apresentado por Datena, exibiu uma longa reportagem que segundo eles, uma médica do Samu havia destratado a filha de uma paciente de 73 anos, com câncer terminal, dizendo que não teria atendimento para ela.
O atendimento à senhora demorou três horas e segundo a reportagem só aconteceu, pois o filho da paciente ligou para a Rádio Bandeirantes para denunciar a situação e os apresentadores cobraram o poder público.
Governo não dialoga com sindicato e trabalhadores
Mesmo descaso e destrato com a população conforme visto na matéria, é prática comum e acontece também com os trabalhadores do Samu. Atualmente temos uma gestão autoritária que não ouve o que os profissionais que realizam o trabalho dizem e assim acabam tomando decisões ruins que não ajudam em nada para o bom funcionamento do serviço.
Para tentar dialogar com a gestão, foi criado um Grupo de Trabalho, que não conseguiu o intuito. Nas mesas de negociações, quando o Sindicato aponta algum problema do Samu é rebatido, além se ser tratado mal e o governo jogar a culpa dos problemas nos trabalhadores.
Em mesa realizada em abril deste ano, além de todos os ataques, foram apresentados números que não condizem com a realidade em que afirmam que o serviço melhorou e que houve uma diminuição no tempo resposta, aumento no número de atendimentos e que todas as ambulâncias estão na rua. Realidade que não condiz com a matéria veiculada pela TV Bandeirantes.
Condições de trabalho só pioram
Com os desmonte das bases modulares, vimos as condições de trabalho só piorando, como a instalação das bases do Samu no interior de unidades de saúde, onde trabalhadores precisam passar no meio dos pacientes em espera por atendimento e sobre gestão de organizações sociais.
Muitos destes locais consistem em apenas um quartinho com beliches que não comportam toda a equipe, além de ser compartilhado entre os homens e mulheres e com apenas um banheiro.
As ambulâncias ficam expostas ao sol e a chuva e normalmente longe do ponto de apoio. Quando chove os trabalhadores precisam sair na chuva com material de trabalho para chegar até o veículo. Além da falta de um local adequado para higienização dos veículos.
Em quase todas as unidades o acesso das ambulâncias, entrada e saída, está prejudicado. Alguns, no interior: ponto de apoio longe do estacionamento, grande movimentação de carros e pessoas no interior, e em torno da unidade. Portões estreitos, com dificuldade de movimentação rápida. Em alguns locais, a dificuldade de acesso se dá pela localização, com vias de acesso congestionadas, o que aumenta o tempo resposta.
Hoje ainda além de todos esses problemas, servidores precisam lidar com as perseguições e mal tratos por parte dos médicos reguladores.
Gestão do Samu joga incompetência nos trabalhadores
Segundo o trabalhador, ao atender um chamado, o paciente deve ser encaminhado para o hospital mais próximo, no entanto, toda vez que atendem um chamado a central não deixa isso acontecer, caso o hospital tenha macas retidas.
Sendo que a portaria da SMS 1.321 de 2016, diz que todo o paciente com agravo à saúde deve ter garantido o acolhimento nas unidades da rede urgência e emergência, após o atendimento inicial feito pelo serviço pré-hospitalar móvel, orientado pelo médico regulador, não cabendo recusa no aceite do paciente em nenhuma hipótese, sendo de responsabilidade do diretor técnico da unidade o acolhimento e resolução do caso.
Muitas ambulâncias são enviadas para atendimento sem macas para que possam dar os primeiros socorros, até que uma segunda que tenha maca possa transportar o paciente, o que não pode acontecer. Segundo a Portaria 2048/02, a maca faz parte do equipamento de uma ambulância. Os servidores quando realizam questionamentos sobre essas irregularidades são punidos.
Em relação às macas, em abril de 2019, foi encerrado o PCO (Plantão Controlador Operacional), eram que recolhiam as macas nos hospitais. Quem passou a fazer este serviço foi o CORE que não consegue realizar o serviço de forma eficiente e a central quer jogar este serviço nas costas dos trabalhadores.
Sendo que a nota técnica 001/16 SMS.G/Comurge, diz ‘é vedado à equipe socorristas assumir tarefas alheias à sua função, tal como buscar macas no interior de unidades de atendimento’.
“Secretaria Municipal de Saúde insiste em uma gestão que não está dando certo e nem resultados positivos, que penaliza o atendimento aos munícipes e adoece física e mentalmente os trabalhadores do Samu”, afirma a secretária dos Trabalhadores da Saúde do Sindsep, Flávia Anunciação.
O Sindsep reafirma sua luta em defesa de um Samu de qualidade e repudia os ataques sofridos pelos munícipes e trabalhadores pela gestão do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência da cidade de São Paulo.