Funcionalismo

Negligência do prefeito Ricardo Nunes ameaça acervos da Assistência Social e vida de trabalhadoras(es) que buscam vagas a pessoas em vulnerabilidade social

23/01/2023 11:48

Por Cecília Figueiredo (texto e fotos), do Sindsep
 
 
 
Piso cedendo, fiação pendurada e infiltrações por toda parte escancaram insalubridade do prédio
 
 
Ainda na região de Vila Mariana, a diretora do Sindsep, Maria Mota, esteve, semana passada (17/01), com trabalhadores(as) da Coordenadoria de Pronto Atendimento Social (CPAS), do Serviço Especializado de Abordagem Social (SEAS), do Espaço Aprender Social (ESPASO) e o Centro de Conhecimento da Assistência Social (CECOAS), instalados em prédio da Av. Professor Ascendino Reis, 830 - Ibirapuera. 
 
A visita ao prédio, onde 15 meses atrás abrigava a SAS/CRAS/CREAS/NPJ Vila Mariana, não deixa dúvidas sobre a política de sucateamento e insegurança que a gestão municipal vem praticando deliberadamente contra trabalhadoras(es) e a política pública do Sistema Único de Assistência Social.
 
As condições que já haviam sido denunciadas, no início de 2021, se agravaram, e muito, nesse período. Mais de 200 profissionais trabalham nos serviços sediados num edifício com fiações penduradas em teto sem forro, salas sem ventilação, refeitório pequeno e com ratoeiras, infiltrações nas paredes e muita água escorrendo em baldes espalhados por vários ambientes.

Na insalubridade a busca de vagas a quem está em vulnerabilidade
 
No 1º andar, que mais se assemelha a um porão, fica a CPAS, com inúmeras salas, porém uma única destinada a dezenas de atendentes que fazem a captação e ofertas de vagas para quem precisa. Trabalhando sem condição adequada de ergonomia, passam 12 horas em frente às telas de computadores regulando vagas. 
 


Três mesas, arquivos e pessoas sem condições de se mexer no SEAS
 
 
Banheiros sem manutenção, em quantidade e tamanho desproporcionais ao número de trabalhadores que atuam num serviço que não para, funciona 24h todos os dias e responde pelo atendimento de emergência de toda a cidade, inclusive ligada à central do 156, onde recebe demanda de munícipes para atendimento à população em situação de rua. 
 
Durante a visita, o Sindsep constatou salas que de tão estreitas é possível apenas caminhar de lado, com orientadores do Serviço Especializado em Abordagem Social (SEAS) amontoados entre arquivos e mesas coladas. 
 
Há também nesse andar o “barracão”, como foi batizado pelos próprios trabalhadores, destinado o “descanso” do pessoal da limpeza e dos motoristas. Do corredor de paredes emboloradas, pela umidade e fiação caindo do forro sem conservação, tivemos acesso a um quintal onde sofás molhados secam ao sol e containers transbordam lixo.


Barracão destinado ao "descanso" de pessoal da limpeza
 
 
Fios pendurados, teto sem forro e muita infiltração no "barracão"
 
O prédio gigante, que de fora mais se assemelha a uma garagem abandonada -- onde estão estacionados os veículos utilizados para as abordagens sociais --, a limpeza é realizada por três funcionárias em horário comercial, portanto, aos finais de semana a situação piora. 
 
Trabalhadores nos mostram imagens de ratos, além dos saruês [mais conhecidos como gambás] que habitam a área verde externa do prédio, de salas e corredores inundados e denunciam a constância do problema causado com a menor chuva em São Paulo. No refeitório minúsculo, onde dois orientadores se alimentavam, identificamos uma ratoeira sobre um armário e outra ao lado da geladeira.
 
 
ratoeira ao lado da geladeira, no refeitório
 
 
No piso superior, onde funciona o Espaço do Aprender Social (ESPASO), criado durante a gestão Marta Suplicy para garantir estudos, pesquisas e formações, não há perspectiva de reforma e a deterioração está presente em pisos, paredes e teto. Patrimônio de São Paulo, o ESPASO concentra no CECOAS (Centro de Conhecimento da Assistência Social) artigos, acervos de fotos, vídeos, jornais e livros especializados sobre lutas e temas caros para a sociedade e ao SUAS. Sem investimento em infraestrutura e concurso público, para reposição de RH, esses acervos estão ameaçados de sumir pela deterioração.
 
 
Autonomia de inundações
 
Um dos auditórios maiores, denominado de “Autonomia”, um grupo realiza reunião. A falta de conservação é denunciada por vários baldes distribuídos em pontos da sala onde há inundação com as chuvas.
 
 
 
Parede descascada pela infiltração das chuvas numa das salas do ESPASO
 
 
 
Protagonismo dos baldes
 
Mais adiante, mais baldes e rachaduras nas paredes do ambiente expõem a negligência da administração municipal com o “Protagonismo”. Em outra sala interditada foi preciso ceder o piso para que os funcionários fossem transferidos.
 
Trabalhadores denunciaram ao Sindsep que apenas uma sala no andar, que tem mais de 10, não chove. Goteiras, infiltrações e o risco de perdas de equipamentos, acervos e ocorrer acidentes de trabalho é eminente no ESPASO.
 
 
Sala de formação tem baldes distribuídos para conter "cachoeira" quando chove, diz funcionária
 
 
"Essa é a administração Ricardo Nunes e Carlos Bezerra, secretário de SMADS: manter a precarização pra defender a terceirização. O prédio do Espaso todo deteriorado e os trabalhadores jogados às piores condições de trabalho em uma secretaria que faz defesa de direitos. É fácil fazer defesa de direitos em discursos, mas, na prática, o atual gabinete não mostra compromisso concreto com trabalhadoras(es), nem com usuários. São negligentes e inaptos. O Sindsep seguirá denunciando, pressionando e exigindo providências adequadas à complexidade da situação aqui apresentada", avisou a coordenadora da Região Sudeste Sindsep, Maria Mota.