Funcionalismo

Protesto contra a flexibilização exige que prefeito 'abra o cofre' para salvar vidas

18/06/2020 17:23

O Brasil já tem quase 1 milhão de doentes e o país com maior número de profissionais de saúde mortos.

“A realidade do Brasil é uma curva ascendente de casos de Covid-19. Somos o segundo país em número de casos da doença e o primeiro a passar vergonha no mundo”, afirmou o presidente do Sindsep, Sérgio Antiqueira, ao criticar o descaso e a flexibilização do isolamento social decidida pelos governos Bruno Covas, João Doria e Jair Bolsonaro. A fala foi feita durante o ato em frente a Prefeitura de São Paulo, na última quarta (17), que denunciou a escalada de casos e mortes entre profissionais e população de modo geral causada pela pandemia do novo coronavírus.
 
Essa abertura em nome da economia, para Sérgio, é irresponsável. “Precisamos de governos que cuidem do seu povo e não daqueles que dizem: ‘vá pra rua morrer’. Se a gente deixar todos voltarem às ruas no Brasil, estamos falando de 1,5 milhão a 2 milhões de pessoas mortas. Nenhuma economia sobrevive a isso. Tem que ajudar com salários para ninguém ser demitido. Tem que taxar as grandes fortunas, cobrar mais de IPTU quem tem grandes mansões e transferir renda para a população não ir para a rua se contaminar”, ressaltou Antiqueira, ao lembrar do ofício assinado pelo Forum de Entidades Sindicais, com nota técnica, contra a flexibilização num cenário que tem mais de 10 mil óbitos na cidade de São Paulo.
 
Ao mencionar os impactos da pandemia entre os profissionais de saúde, o presidente do Sindsep falou sobre o crescimento de afastamentos de profissionais por adoecimento, devido à falta de equipamentos de proteção individual, a falta de testagem, jornadas exaustivas, pressão no trabalho e mortes, até ontem (18) contabilizados em 70. 
 
Ângela Santos, diretora do Sindicato dos Psicólogos de São Paulo (SinPsi), denunciou que há aumento de casos de ansiedade, síndrome do pânico, além do luto pelas perdas. 
 
 
 
 
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Representantes sindicais reforçaram as dificuldades que vêm enfrentando para a sobrevivência, como José Gomes, do Sindicato dos Ambulantes e Permissionários da cidade de São Paulo, e a recusa da administração em dialogar com os trabalhadores, conforme denunciou o diretor da Aprofem, João Luiz Martins. 
 
Abra o cofre prefeito 
 
Num diálogo com a população que transitava por um centro de São Paulo bastante movimentado, a secretária de Trabalhadores da Saúde do Sindsep, Lourdes Estêvão, denunciou a tragédia que vem ocorrendo nos serviços de saúde, cemitérios e serviços de Assistência Social. “O que deveriam fazer é abrir os cofres que têm os recursos pagos por todos os trabalhadores, por meio de impostos. Esses recursos têm de ser disponibilizados num momento como esse, para proteger suas vidas. Temos que gritar pelo direito à vida”.

 
 
 
Atanacio de Los Santos Rojas, assistente de Gestão de Políticas Públicas da Subprefeitura de Guaianases, reforçou que os trabalhadores terceirizados que atuam na limpeza, manutenção e outros serviços de rua não estão tendo nenhuma segurança também. 
 
João Batista, secretário de Imprensa do Sindsep, exigiu testagem e plano de controle da Covid-19. "O governo abriu 13 mil covas, muito mais que leitos nos hospitais. Trabalhadores que estão em serviços essenciais desde a decretação da Situação de Emergência não pararam de trabalhar e os governos atacam os servidores públicos a todo tempo. Bolsonaro, Rodrigo Maia, Alcolumbre ameaçam congelar salário de servidor", denunciou. 
 
O Brasil já tem quase 1 milhão de doentes "e somos o país com maior número de profissionais de saúde mortos”, afirmou Luba. 
 
Falta estratégia para quem está sendo atendido e protocolos para quem está atendendo aos casos de Covid-19, acrescentou a diretora do Sindsep, Flávia Anunciação. "Além da falta de testagem, EPI, insumos, o profissional de saúde passa por esse momento sem apoio psicológico. É muito difícil ver uma colega depois de 20 anos trabalhando junto com você morrer para salvar vidas”, disse a dirigente, ao reforçar a importância de defesa do SUS, "nenhum serviço privado tem condições de enfrentar essa pandemia se não for o SUS".
 
Trabalhadores vivos para salvar vidas
 
No encerramento do ato, o vice-presidente do Sindsep, João Gabriel Buonavita fez a leitura dos nomes dos 70 profissionais mortos por Covid, foram depositadas flores junto aos cartazes pedindo mais proteção na grade que distancia o prédio da Prefeitura de São Paulo da rua. “Eles tentam nos silenciar, não atendem aos inúmeros pedidos que temos feito para que trabalhadores do serviço público e terceirizados sejam remanejados para o teletrabalho, à testagem de todos os profissionais após 3 meses para que a gente saiba se vai continuar prestando um bom serviço. Se não tiver profissionais vivos não teremos atendimento. Tem teste para os gestores toda semana, mas não tem para o auxiliar de limpeza, enfermeiro, técnico de enfermagem, assistentes sociais, agentes sepultadores, GCMs, trabalhadores que estão na educação em plantão presencial”.
 
 
 
Ato no próximo sábado (20)
 
Sérgio Antiqueira também informou o protocolo de documento com as reivindicações junto à gestão municipal e convidou a todos para participarem do ato no próximo sábado (20), às 11h, no Campo de Bagatelle, zona Norte, organizado pelo Sindsep e outras entidades sindicais do setor público da CUT, em memória aos trabalhadores vítimas da Covid-19. 
 
 
 
 
Fotos do ato: Cecília Figueiredo