Mulheres

Laudiceia Reis é capa da Revista Juventude Pode da ISP

11/05/2022 10:53

A diretora da pasta de Atenção à Mulher Trabalhadora do Sindsep Laudiceia Reis é capa da edição de abril, da revista Juventude Pode, do Comitê de Jovens da Internacional dos Serviços Públicos. Confira a matéria.

 

DE MÃE PARA FILHA

 

Laudiceia Reis, dirigente do Sindsep, se inspira nas histórias de luta da família para atuar em tempo integral na defesa dos direitos do funcionalismo e da população de São Paulo

 

A primeira vez que Laudiceia Reis participou de uma reunião sindical foi no colo da mãe, servidora pública que atuou ativamente nos movimentos reivindicatórios da década de 90. “Não sei dizer que idade eu tinha, mas tenho lembrança de dormir nas reuniões, de tão pequena que eu era”, afirma Laudiceia. Anos depois, ao também se tornar servidora, Laudiceia não teve dúvida que qual seria a primeira providência ao assumir seu posto: sindicalizar-se. “Já é meio que da família. Tá no sangue”, orgulha-se.

 

Embora tenha outras referências próximas de luta social – um de seus avós fez parte do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), e o pai, ex-metalúrgico, distribuía jornalzinho do sindicato na empresa em que trabalhava -, foi o exemplo da mãe, Maria da Paixão, hoje aposentada e com 70 anos, que mais influenciou em suas escolhas.

 

“Minha mãe é da Educação. Começou na prefeitura de São Paulo como Auxiliar de Desenvolvimento Infantil. Depois virou professora. Não chegou a ser dirigente, mas sempre foi representante sindical e participava das lutas e das greves”, conta.

 

Nos passos de Maria da Paixão, em 2008 Laudiceia passou em um concurso público para Agente de Zoonoses. Foi chamada para a vaga em 2011 e logo virou representante sindical.

 

Sua primeira grande luta como servidora viria num movimento que começou em 2014 e continuou em 2015, quando os agentes de zoonoses pressionaram para fazer parte da Secretaria da Saúde. Até então, a carreira era ligada à Secretaria de Gestão. A mudança implicava regulamentação adequada e melhoria salarial.

 

“A prefeitura tinha proposta de reestruturação do nível universitário para a Saúde. A gente aproveitou esse movimento para que fosse criada a carreira de nível básico. Fizemos a luta e a Zoonose teve importância grande. Paramos realmente a categoria, eram 2.700 agentes, e conseguimos transformar a carreira em Agente de Combate a Endemias”, lembra Laudiceia, que hoje é dirigente do Sindsep – o sindicato que tenta unificar as lutas das várias categorias do serviço público na cidade de São Paulo.

 

Unidade

 

A filiação especificamente ao Sindsep também se deu por influência da mãe. “Vi ela obter várias conquistas aqui. É um sindicato que vai realmente para a base. Em 2018, conseguiu unificar as demais entidades pela base. Antes era fragmentado. A Educação, que é o grupo majoritário, tem mais força para conseguir as coisas [isoladamente] porque é a menos terceirizada, mas o restante é um pouco mais fragilizado”, analisa.

 

A unidade de 2018 se deu na luta contra o Sampaprev – a reforma previdenciária municipal iniciada pelo então prefeito João Doria (PSDB), que propunha a elevação da contribuição dos servidores da ativa, de 11% para 19%. A pressão unificada do funcionalismo não foi suficiente para barrar a reforma, mas conseguiu reduzir o aumento para 14%.

 

“O Sindsep participou ativamente desse movimento e de outros também. Todo dia tem um ataque diferente. Não dá nem pra respirar”, relata. “Enquanto isso, a gente segue com 0,01% de reajuste anual. Faz muito tempo que é só isso. Teve reestruturações pontuais, mas linear não. E as coisas cada vez mais caras… A gente tem história de servidor de nível básico que mora em albergue. Pessoal não está conseguindo pagar aluguel”.

 

Combate a terceirização

 

Os principais ataques ao serviço público, na avaliação de Laudiceia, estão relacionados aos processos de terceirização – sobretudo em sua área, a Saúde.

 

“A atual gestão é a que mais entrega dos serviços para as OSS (Organizações Sociais de Saúde). Os servidores se aposentam, morrem, e como não tem concurso para repor, vão entregando para as OSS. Com o Doria na prefeitura começou um processo mais violento. Hoje, 90% da saúde da cidade estão nas mãos das OSS. Atenção básica é praticamente deles. Temos poucas unidades na administração direta, entre elas os hospitais municipais, mas com vários setores terceirizados. Estão comendo pelas beiradas”, explica.

 

Na condição de dirigente sindical, Laudiceia atua desde 2018 como dirigente coordenadora de Região Sul 1 – que é onde está sua unidade de origem (UBS e M’Boi Mirim) e envolve os bairros do Campo Limpo, do Jardim Ângela e do Jardim São Luiz.

 

Nessa função, visita as unidades e organizar a luta os trabalhadores, quase sempre relacionadas à terceirização. Em 2020 o sindicato obtive uma expressiva vitória ao barrar a entrega do Hospital Campo Limpo para a OS do hospital privado Alberto Einstein.

 

“Foi minha primeira grande missão na região. A gente conseguiu barrar porque na Zona Sul o movimento de saúde é forte e organizado. Isso nos fortaleceu para o enfrentamento. Foi um processo que estava cheio de irregularidade nos contratos. Chegaram para tomar tudo de uma vez, de forma truculenta. Isso causou reação dos trabalhadores e da população. Eles entraram, tiraram os postos de todo mundo e ficaram mais ou menos uma semana. Fizemos toda a luta, várias ações e o TCM (Tribunal de Contas do Município) derrubou, disse que era pra reverter porque estava irregular. Foram obrigados a sair”, comemora.

 

Futuro

 

Formada em Enfermagem, Laudiceia nunca exerceu a profissão porque concluiu o curso no mesmo ano em que foi chamada para assumir o posto de Agente de Zoonoses na Prefeitura – e na época, como agora, ela não tinha dúvida quanto o caminho a seguir.

 

Com 32 anos, ela diz que pretende em algum momento voltar a estudar. Mas não tem a menor ideia de quando chegará esse momento, já que as atividades sindicais consomem praticamente todo seu tempo. “Você acaba sacrificando um monte de coisas”, afirma.

 

Recentemente, ela iniciou um curso técnico de Decoração, mas teve de parar. Hoje, nas poucas horas vagas, ela se dedica ao artesanato de macramê. “Tiro um dinheirinho por fora, mas é mais por hobby. Ajuda a vencer a ansiedade”.

 

Laudiceia vê seu possível desenvolvimento profissional diretamente relacionado a seu compromisso com o serviço público. “Minha esperança é que mude o governo para que volte a ter concursos”, comenta.

Ela está otimista em relação às eleições deste ano, mas, como militante de base, sabe que não vai ser fácil derrotar a extrema direita representada por Bolsonaro. “Acho que essa pauta conservadora, apesar de todo dia cair um moralista, tem um apelo muito forte, isso pega, e os trabalhadores estão inseridos nesse meio. Tenho colega na saúde que não quis tomar vacina por conta do presidente”, lamenta.

 

Ao mesmo tempo, ela percebe também que muita gente acordando para o desastre que é o atual governo. “Um colega da minha categoria, que deixei de seguir nas redes sociais porque ele defendia o Bolsonaro, outro dia veio me pedir desculpas, dizendo que eu estava certa. Achei muito interessante. O pessoal está percebendo, está tudo caro, as pessoas estão começando a enxergar”.

 

No plano sindical, Laudiceia encara um novo desafio a parti de maio, quando assume a pasta de Atenção à Mulher Trabalhadora e passa a atuar em toda cidade.

 

“Vou dar continuidade e ampliar o trabalho que já é feito hoje de combate ao assédio sexual. Tem bastante campo pra trabalhar nessa área”, conclui.

 

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