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Ação do Sindsep fortalece laços entre trabalhadores do campo e da cidade

19/07/2021 16:50

Desejo de união da classe trabalhadora, com cooperação e fazendo com que novas ações se espalhem por outras entidades é o que tem movido o Sindsep em parceria com produtores rurais familiares, levando alimentos de boa qualidade às periferias

Por Pedro Canfora, do Sindsep

A luta dos trabalhadores da Educação nos 120 dias de Greve Pela Vida não gerou frutos apenas com as conquistas diretas, mas a construção da luta culminou com organização dos trabalhadores, união de diversas áreas e na composição do Fundo de Greve Solidário. Este fundo contou com apoio de diversas entidades sindicais, trabalhadores diversos do serviço público e até com apoio de entidades internacionais, que em um primeiro momento contribuíram com a reposição salarial daqueles que tiveram seus recebimentos confiscados pela Prefeitura em uma atitude antissindical. E, como previsto no projeto, parte das doações e do dinheiro retornado de seriam revertidas para uma ação solidária, ajudando famílias que sofrem com o problema da fome e o desemprego.

Os alimentos vieram de assentamentos de produtores agrícolas familiares, que também travam uma batalha para escoar suas produções por conta do descaso dos governos federal, estadual e municipal. Estes assentamentos possuem ligações com diversas entidades, como o MST, o Setorial Agrário do PT e da CUT, a Federação da Agricultura Familiar, e produtores que não estão em entidades, mas agregam nas discussões e fazem parte deste ecossistema de cooperação e de produção familiar.


Ação ocorrida na Brasilândia levou à famílias que necessitam, alimentos de qualidade, vindos de produtores agrícolas familiares

O produtor Walter Aparecido, mora no Assentamento Vergel, em Mogi Mirim. Neste assentamento vivem cerca de 90 famílias, que trabalham e produzem alimentos. Segundo Walter, a situação está muito difícil, além de recentemente ter acontecido uma geada e o tempo seco, não há apoio e os produtores não estão conseguindo produzir. Segundo ele, mesmo a agricultura familiar sendo responsável por 70% dos alimentos que chegam à mesa da população, “falta água nos lotes e apoio para financiamentos, apoio na comercialização e parcerias, onde a gente pode melhorar a venda do nosso produto. O Governo Federal e o Governo do Estado, não estão se empenhado na agricultura familiar, sempre favorecendo o agronegócio e deixando a agricultura familiar pra trás.”

Outro problema enfrentado por estes produtores foi o desmonte de políticas voltadas para a agricultura familiar, como explica José Justino Desdério Filho (Zezinho), coordenador da subsede da CUT no Vale do Ribeira e integrante do Setorial Agrário do PT. Zezinho, agricultor familiar, diz que a única coisa que tem segurado é na política de alimentação escolar. Implementada ainda na época do Haddad, porém recentemente, na gestão de Bruno Covas, foi descentralizada, o que afetou e diminuiu o acesso dos produtores, que agora precisam negociar separadamente com os gestores regionais. “Então isso isso complicou muito. Fora isso, o pessoal está fazendo feira, mas, em sua grande maioria, desmontou tudo, porque com golpe, as políticas públicas foram praticamente extinguidas. O recurso para compra institucional foi reduzido, o crédito foi reduzido, linha de crédito nem se fala mais…”, afirma o agricultor.

O Brasil retornou ao mapa da fome, o desemprego e a inflação que não param de crescer, por conta das políticas de morte promovidas por Bolsonaro e Guedes, afetam diretamente aos mais necessitados. Segundo pesquisa recente, durante a pandemia, cerca de 14% dos brasileiros acima de 18 anos passaram ao menos um dia sem refeição. Um outro exemplo do absurdo que vivemos economicamente e na alimentação, o “fragmento de arroz”, que não era comercializado por conta do seu baixíssimo valor nutricional e reservado para compor rações e fazer farinha. E, se antes custava um real o quilo, hoje em dia marcas famosas, visando o consumo das famílias, vendem a aproximadamente 16 reais o pacote de 5 quilos. Isso leva a um empobrecimento da qualidade alimentícia da população, que já está fragilizada, sem o devido apoio do governo e com poucas ou nenhuma opções de alimentos de qualidade para seu consumo. “Infelizmente o que está se consumindo, em sua grande maioria, são alimentos de baixo poder nutritivo, que estão nas gôndolas do supermercado. Então, por isso que a gente destaca a importância da soberania alimentar e nutricional”, afirma Zezinho.

Pensando nisso, ações como a do Sindsep possuem grande relevância no cenário atual. Precisamos unir a classe trabalhadora, do campo ou da cidade, em apoio mútuo, além de estar sempre ao lado daqueles que mais precisam. Para Sérgio Antiqueira, presidente do Sindsep, “a ação do Sindsep de doação de alimentos teve um valor simbólico, mas profundo, de destacar princípios como a solidariedade entre a classe trabalhadora.”


Ação solidária em São Mateus levou alimentos produzidos nos assentamentos, aproximando trabalhadores do campo e da cidade e a população
    
O produtor Walter ainda destacou a importância da ação de união entre o campo e a cidade, “pois nós produzimos, mas não temos pra quem vender, a cidade compra caro de atravessador e nós aqui no campo perdemos nossa produção. Então é importante pra que a gente faça essa aliança onde podemos permanecer produzindo, vendendo alimento de qualidade e alimento mais barato para a cidade.”
    
Zezinho, que participa da Federação da Agricultura Familiar (FAF),  destaca que a ação pode se espalhar com outras entidades, encorajando a criação de uma cooperativa de consumo. “A gente tá tentando fazer a essa discussão com os outros outros segmentos e sindicatos, não só com o Sindsep, que desemboque na construção de cooperativas de consumo, tirar do atravessador e passar direto um produto de qualidade.” Assim, fazendo com que esse alimento de qualidade chegue até a periferia, para ele, “esse é o nosso desafio e lá onde tá nosso povo!”


Diretores do Sindsep e do Fundo de Greve na entrega dos alimentos na Brasilândia.

Ainda que essa ação seja importante e demonstre a força e a união entre a classe trabalhadora, demonstrando sua preocupação e cumprindo um importante papel social, ela por si só, é insuficiente. A maior responsabilidade de garantir os direitos sociais é dos governos, ele quem tem o dever de não deixar que sua população passe fome. Assim como afirma Antiqueira, “é importante frisar que essas ações não podem substituir o papel do Estado, pelo contrário, deve servir de instrumento de denúncia e conscientização sobre o papel do Estado e a sua ausência pela políticas de governos como os de Covas/Nunes, Doria e Bolsonaro.”

Confira aqui as fotos da Ação Solidária: https://tinyurl.com/FotoAcaoSolidaria

Confira aqui o vídeo da Ação Solidária: https://tinyurl.com/VideoAcaoSolidaria