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Ricardo Antunes, professor e pesquisador do mundo do trabalho fala sobre a Reforma da previdência

04/04/2019 09:20

Em evento realizado pela CUT Nacional, o professor da Unicamp, fala sobre como é prejudicial para a classe trabalhadora a reforma da previdência proposta por Bolsonaro

Entrevista realizada por Letícia Kutzke
 
A Secretaria de Relações de Trabalho da CUT Nacional, realizou no dia 28 de março, um encontro do Grupo de Reflexão Novas Tecnologias e Relações de Trabalho, com palestra do professor da Unicamp, Ricardo Antunes e de Odair Furtado da PUC, sobre o tema “O novo perfil da classe trabalhadora”.
 
 
Ricardo Antunes tem mais de 40 anos de pesquisa na área da sociologia do trabalho. Em sua fala explicou o momento atual em que vive a classe trabalhadora. Com o advento do trabalho flexível, intermitente, terceirizado e precarizado, em que trabalhar no regime CLT é a exceção e não a regra dos tempos atuais.
 
 
Odair Furtado, professor de psicologia social, falou sobre alguns trabalhos que são prejudiciais a saúde do trabalhador, mas que ele mesmo sabendo, precisa se submeter, pois precisa sustentar sua família. De como a informação, a tecnologia muda o modo de atuar dos trabalhadores. Além de falar sobre algumas condições de sofrimento da classe trabalhadora, como a epidemia de depressão.
 
 
O Sindsep aproveitou o encontro e entrevistou o professor Ricardo Antunes para saber a opinião dele sobre os ataques aos servidores e sobre a reforma da previdência proposta pelo atual governo. Para ele, o governo Bolsonaro para a nova previdência tem um sentido único, acabar com a previdência pública no Brasil e criar uma previdência que eles chamam de capitalização, para aqueles trabalhadores de classe média alta que tem condições de pagar uma previdência capitalista. “Porque para você fazer a capitalização você precisa de dinheiro para investir. Imagine um trabalhador e uma trabalhadora pobre que tem um trabalho intermitente, um trabalho informal. Vivem meses ou anos desempregados, esses não terão condições de pagar”, afirma Ricardo.
 
 
Isso é a extinção da previdência pública e ela afeta diretamente os trabalhadores públicos. "Eu sou favorável que se tenha um regime único de previdência, onde os trabalhadores públicos e privados possam ter os mesmos direitos, os mesmos valores. Mas isso implica em salários dignos para os trabalhadores e trabalhadoras, públicas inclusive", afirma Antunes.
 
 
Aqueles que trabalham no setor público, ou trabalharam 10, 20, 30, 40 anos, agora se vem na eminência de perder a aposentadoria que tinham, para fazer regra de transição, que tem como sentido fundamental tirar o estado que é quem garante a previdência pública para fazer com que a previdência daqueles que podem pagar, que são poucos, beneficie só o sistema financeiro, que são em particular os bancos.
 
 
O que vai acontecer, os pobres que não conseguirem pagar a previdência, entre os 60 e 70 anos terão direito na reforma do Bolsonaro que é vergonhosa, direito a uma bolsa, a um digamos assim, um auxílio assistencialista de R$400,00. Quando hoje, já é, acima de 65 anos de um salário mínimo, que inclusive é um salário indigente, o salário mínimo brasileiro, que só podia ser um salário mínimo indigente, de um governo, o de Bolsonaro, que conseguiu a proeza de dar um aumento menor que o do Temer. A proposta do Temer era um pouquinho maior e ele conseguiu diminuir.
 
 
Mas o que está em jogo é a destruição do sistema de previdência pública criada no Brasil, especialmente pela Constituição de 1988. Porque? Porque os bancos assim impõem e esses governos, são governos fantoches.
 
 
Ao questionarmos Ricardo Antunes sobre a reforma da previdência municipal ocorrida na cidade de São Paulo, que confisca 11 dias de trabalho do servidor ao ano, se ela abre precedentes para que aconteça com servidores de outras cidades, ele acredita que sim. Pois essa proposta da previdência do Bolsonaro, além de destruir os funcionários públicos da União, do âmbito Federal, essa reforma, a sua proposta é que ela seja transferida diretamente para o estado e município. De acordo com a vontade e controle que o prefeito ou governador tem na assembleia, pode ser ainda pior que a geral.
 
 
Só há uma alternativa, recusar. Não é nova previdência, essa proposta é a destruição da previdência pública e a criação de um sistema privado de financiamento do futuro. As classes burguesas não precisam de previdência, elas têm casas, carros, bens, fábricas, fazendas, bancos. As classes médias altas, muito altas, que são as minorias também tem recursos, tem a previdência privada. “Nós precisamos de uma previdência digna e pública para o conjunto de assalariado do Brasil e é mentira quando o Paulo Guedes diz, que a previdência é uma fonte de desigualdades. A fonte de desigualdade que nós temos no Brasil, é o capitalismo brasileiro, aliás do qual o Paulo Guedes é um dos grandes beneficiários, porque ele vive exatamente dessa fonte de desigualdades que é o mundo financeiro e o mundo das pensões do capitalismo financeiro”, finaliza Ricardo Antunes.