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Saiba por que Temer e Bolsonaro serão os culpados pela alta dos preços dos alimentos

07/03/2022 16:49

Desmonte dos projetos do PT de autossuficiência em nitrogenados com fechamento de fábricas e arrendamentos abaixo do preço diminuíram e encareceram produção de fertilizantes, aumentando a dependência da Rússia

VIA: CUT | Escrito por: Rosely Rocha | Editado por: Marize Muniz
Foto de Capa: Roberto Parizotti

 

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A guerra entre a Rússia e a Ucrânia colocou em destaque uma preocupação de autoridades brasileiras com a possível disparada dos preços ou até mesmo falta de alimentos no país. Tudo isso porque o Brasil importa 85% dos fertilizantes usados no país e a Rússia responde por 23% dessas importações.

Mas, o problema dos brasileiros, que já estão pagando preços absurdos pelos alimentos, não é a guerra. Independentemente do conflito iniciado pelo presidente russo Vladimir Putin, que pode reduzir ou zerar as importações, a responsabilidade maior da dependência do Brasil dos fertilizantes importados é dos governos do ilegítimo Michel Temer (MDB-SP) e de Jair Bolsonaro (PL). O primeiro iniciou o desmonte da produção no Brasil, em 2016 e o segundo prosseguiu arruinando o setor, fechando, arrendando ou paralisando obras das fábricas de fertilizantes.

Há dois anos o secretário de Comunicação da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Gerson Castellano, já havia alertado à reportagem do Portal CUT que o fechamento da Fábrica de Fertilizantes de Araucária, no Paraná (Fafen-PR), o arrendamento das unidades de Sergipe e Bahia e a paralisação das obras da fábrica em Mato Grosso do Sul, com mais de 85% prontas, provocariam o aumento dos preços dos alimentos, pela total dependência na importação do produto necessário à agricultura do país.

Para Castellano, principalmente o agronegócio não vai absorver os reajustes e vai repassar a alta dos preços ao consumidor, ou seja, os brasileiros que consumem proteína animal serão os que mais vão sofrer com o desmonte dos governos Temer e Bolsonaro.

“Antes da guerra o fertilizante teve aumento de 200% e o Brasil não sofreu o impacto por que já havia comprado o produto. O problema é que agora o preço já está em US$ 115 e a Rússia suspendeu a sua venda e a saída de grandes contairners por parte das empresas marinhas por causa das sanções impostas pelos EUA e Europa ao país”, conta o petroleiro.?


O uso de fertilizantes na agricultura
Castellano explica que os nitrogenados, produzidos pela Fafen-PR, fechada em 2020 pelo governo Bolsonaro, eram utilizados principalmente na composição dos fertilizantes da agricultura familiar na produção de arroz, feijão, café, açúcar, cana, batata, milho e até soja, numa proporção menor do que os demais alimentos.

“O Brasil importa quase 75% dos nitrogenados, mas poderia ser totalmente autossuficiente se os governos Temer e Bolsonaro não tivessem desmontado o projeto do PT de aumentar a nossa produção, inclusive com uma nova fábrica em Minas Gerais, para diminuir a dependência estrangeira e o impacto do alto preço de fertilizantes, cuja cotação é em dólar”, diz.

Que é a população brasileira que vai pagar a conta desse processo de desmonte na produção de fertilizantes não tem dúvida alguma também o coordenador da FUP, Deyvid Bacelar. Para ele é cinismo da ministra da Agricultura, Teresa Cristina, dizer que está preocupada com a insegurança alimentar dos brasileiros, diante da crise dos fertilizantes.

"Eles reconhecem um erro, mas não assumem que o erro é deles. Se nós tivéssemos mantido o plano de 2014 do ex-presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, o Brasil seria autossuficiente, mas com a mudança ‘estratégica’ errada dos governos Temer e Bolsonaro somos ainda mais dependentes do exterio. Não estaríamos passando por isso se tivéssemos o PT no governo federal“, acrescenta o dirigente.

Negócios sem transparência
As atuações de Temer e Bolsonaro são também responsáveis pelos prejuízos causados ao país com o fechamento da Fafen-PR e nos arrendamentos das fábricas da Bahia e Sergipe, afirma o secretário de comunicação da CUT Nacional, o petroleiro Roni Barbosa.

Para ele, os governos após o PT desistiram de investir nas fábricas de fertilizantes para ajudar no desmonte da Petrobras e deram a desculpa de que eram deficitárias.

“A Fafen-PR era lucrativa, mas depois que Temer condicionou o barril do petróleo extraído aqui ao valor internacional, com cotação em dólar, claro que a fábrica contabilmente ficou deficitária, mas o petróleo é produzido pelos brasileiros que recebem em reais e tudo aqui deveria ser na moeda nacional. O que eles fizeram nada mais foi do que uma manobra contábil para enganar a população. Este é um governo que pensa que a soberania nacional dá prejuízo e por falta de estratégia põe todos os brasileiros em insegurança alimentar"
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Outro responsável é o ex-juiz Sergio Moro que comandou a Operação Lava Jato e paralisou as obras da fábrica de Mato Grosso do Sul, afirma Castellano. A Lava Jato além de ser responsável em fechar 4,4 milhões de vagas de trabalho, agora pode aumentar a fome dos brasileiros que já vivem em insegurança alimentar por causa dos altos preços da comida, diz.
“A obra do Mato Grosso do Sul e os projetos de Minas Gerais e Sergipe foram interrompidos por conta da malfadada Lava Jato que parou as obras de tudo em todo Brasil, causando desemprego e perdas de receitas”, afirma o dirigente da FUP.

O petroleiro conta como foi o desmonte da produção de fertilizantes no país. Tudo começou em 2016, quando, após golpe em Dilma Rousseff, a Petrobras comandada por Pedro Parente resolve sair da área de Fertilizantes Nitrogenados.

Em 2019 o governo arrendou as unidades de Sergipe e Bahia por 10 anos, prorrogáveis por mais 10, para a Unigel, uma das maiores indústrias petroquímicas do Brasil, no valor de R$ 177 milhões por todo o período. Um valor irrisório diante de um lucro de R$ 2 bilhões ao ano que a empresa anunciou em 2020.

“E mais, a Petrobras manteve trabalhadores próprios pagando seus salários e direitos por quase três anos para ‘ensinar’ a Uniger a operar as unidades da Bahia e Sergipe. Ou seja, a empresa ainda saiu lucrando com o trabalho dos petroleiros pagos com dinheiro da Petrobras”, conta.

Outro absurdo, segundo Castellano, ocorreu em 2020 com o fechamento e demissão de 1 mil trabalhadores da Fafen em Araucária, responsável por 40% da produção nacional de produtos utilizados nos fertilizantes, com 1.975 toneladas de ureia por dia e 1.303 toneladas de amônia, produtos básicos misturados ao nitrogênio, potássio e fósforo.

Castellano ressalta que o nitrogenado pode ser produzido a partir do petróleo e de restos de asfalto da Petrobras, mas com a paridade internacional do preço do petróleo praticado pela estatal, o lucro que a Fafen-PR obtinha tornou-se prejuízo, com a manobra contábil.

“Fecharam a fábrica de fertilizantes com a alegação contábil de prejuízo e que o mercado não iria se recuperar. Com o fechamento, a Unigel absorveu cerca de 70% dos trabalhadores próprios da Petrobras do Paraná que já estavam treinados, tinham larga experiência e mais, por conta do desemprego, aceitaram ganhar menos que ganhavam antes”, diz o dirigente da FUP.

Para piorar a dependência do país, o governo federal teme que as sanções econômicas impostas à Rússia impeçam que entre em funcionamento uma fábrica de fertilizantes em Três Lagoas, em Mato Grosso do Sul, comprada da Petrobras em fevereiro deste ano, pela empresa russa Acron.
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Empresa alternativa vendida abaixo do preço
Segundo Castellano, o Brasil tinha ainda a possibilidade de utilizar a Usina do Xisto em São Mateus do Sul-PR (SIX) com o uso do Xisto Agrícola, cujos estudos foram feitos pelo Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), junto com Embrapa. O lucro da Usina em 2021 foi de R$ 250 milhões, mas foi vendida por R$ 176 milhões.
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Amazônia não tem fertilizantes
O Brasil, segundo Castellano, tem poucas reservas de potássio, mesmo que alguns alardeiem sobre reservas na Amazônia, a quantidade não seria suficiente para reduzir nossa grande dependência do Canadá, Rússia e Bielorússia que detêm as maiores reservas mundiais com 90% e de Israel com 10%. O caso do Fósforo, os países Marrocos, China, Argélia e Síria, detêm 80% de todo este minério no mundo. Por isso, a dependência do Brasil por fertilizantes utilizados em ração animal, destinados ao agronegócio. O petroleiro critica também Bolsonaro por dizer que têm esses produtos na Amazonia.

“É uma desculpa para invadir terras indígenas e liberar a mineração. Não há estudos geológicos que confirmem isso. O que ele quer é ter uma desculpa para desmatar a Amazônia. Resumindo para os que falam que o "problema" é a "maldita" legislação ambiental, fica a dica: não adianta passar o rodo, destruir florestas, matar animais e povos nativos, trazer de volta o Salles motosserra, pois continuaremos dependentes e muito de importações de potássio e fósforo."

“Salles motosserra” é uma referência ao ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, do governo Bolsonaro, que em reunião ministerial em abril de 2020 disse que poderia passar a “boiada” mudando a legislação ambiental, favorecendo a destruição de florestas e terras indígenas.

“Você pode derrubar tudo que mesmo assim terá que importar mais de 90% do fósforo e do potássio. Já o nitrogenado está em nossas mãos, temos petróleo e gás, só falta vontade do governo investir. A iniciativa privada quer unidade, mão de obra e mercado prontos, não quer investir”, critica o petroleiro.