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Paulo Henrique Amorim afirma que o trabalhador é a maior vítima do bloqueio da notícia no Brasil

21/08/2015 12:15

Jornalista destacou a mudança de lugar do centro econômico do mundo e criticou a falta de ação do Governo quanto a regulamentação da imprensa

Paulo Henrique Amorim, jornalista, apresentador e blogueiro no Conversa Afiada, que chama carinhosamente a grande mídia brasileira de PIG (Partido da Imprensa Golpista), esteve presente na festa de 28 anos do Sindsep e falou, entre outros assuntos, sobre as mudanças que o mundo passou nos últimos anos, sobre a necessidade de regulamentar a imprensa no Brasil e o papel fundamental do trabalhador, sobretudo do servidor público, de lutar por uma democratização da mídia. Há um muro que afasta a sociedade brasileira da informação e o maior prejudicado por isso é o trabalhador, conforme avaliação do jornalista.

O mundo mudou de lugar, se nos anos 1980 e 1990 o centro político e econômico do mundo ficava localizado em Nova Iorque, nos Estado Unidos, hoje este centro se desloca em direção à Ásia. Prova disso seria que, segundo o inglês The Economist, classificado pelo próprio jornalista como sendo uma “revista dos bancos para os bancos, pelos bancos ingleses, subalternos aos bancos americanos”, a economia chinesa ultrapassou a norte americana em poder de compra. Ainda na China, os investimentos diretos realizados fora do país (como a ferrovia bi-oceânica e o linhão de Belo Monte, ambos no Brasil), ultrapassaram os investimentos feitos dentro da China. “O mundo mudou de direção e muita gente não vê. O mundo mudou de lugar e os tucanos não perceberam”, afirmou Paulo Henrique. Para ilustrar essa mudança de paradigma que o planeta passa, usou o exemplo norte-americano, afirmando que neste ano a verba publicitária da internet será maior que a publicidade em jornais e revistas, “ou seja, daqui a pouco no Brasil, a publicidade no Conversa Afiada (seu site), será maior que na Folha, no Estadão e na Veja”, alfinetou o jornalista.

As recentes mudanças econômicas e comportamentais vêm incomodando o PIG (Partido da Imprensa Golpista como ele chama a velha e grande mídia), pois atrapalham sua hegemonia. Em pouco mais de um ano, o Netflix, empresa americana que oferece serviço de TV pela internet, conseguiu quase 5 milhões de assinantes no Brasil, tendo apenas 10 funcionários, “10 funcionários é o número de maquiadores do Wiliam Bonner, no Jornal Nacional”, ironizou. Outro exemplo é o Google, segundo o jornalista, “o Google está fazendo televisão, com o YouTube, e a Globo quer fechá-lo.”

Para PH Amorim a comunicação deve ser uma via de mão dupla, ou seja, é preciso haver diálogo entre a população e a imprensa. Porém, a grande mídia exerce um monopólio sobre a informação, por exemplo a Rede Globo, que recebe cerca de 75% da verba publicitária e detém 40% da audiência. “O Ministro Franklin Martins (ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, no Governo Lula) teve uma ideia revolucionária para resolver o problema do monopólio da TV brasileira: cumprir a Constituição de 1988”, lembrou Paulo Henrique. Enquanto ministro, Franklin Martins elaborou uma proposta para regulação do conteúdo, mas o projeto ficou engavetado no Governo.

A comunicação é um direito, e hoje “existe uma interdição da informação. Existe um muro entre a sociedade brasileira e a informação. E a maior vítima do bloqueio da notícia no Brasil é o trabalhador”, frisou. O jornalista convocou os trabalhadores a tomar a frente na luta por uma democratização da mídia, dizendo que o maior medo da Globo não era de seus concorrentes, mas do povo passar a ter voz. “O problema da Globo não sou eu, não é o Edir Macedo, não é o Silvio Santos, o problema da Globo é se as pessoas tiverem voz. ”. Ao criticar a falta de ação dos governos de Lula e Dilma, que se elegeram com propostas de regulamentação da comunicação social brasileira, Paulo Henrique lembrou da chamada Lei de Medios da argentina, “Cristina Kirchner encomendou às academias e aos sindicatos argentinos um projeto de lei de regulamentação da mídia. Representantes sindicais e professores se reuniram e produziram um anteprojeto de lei”, este projeto foi aprovado no congresso, em 2013 foi declarado constitucional e colocado em prática. Para o blogueiro, Cristina partiu ao meio o Clarim, maior grupo de comunicação argentino, a quem chamou de “a Globo de lá”. Finalizou apontando uma solução, ainda usando de exemplo os vizinhos argentinos, pois a regulamentação só foi possível porque “os funcionários municipais de Buenos Aires iam para a porta da Casa Rosada pedir uma Lei de Medios”, constatando a importância dos trabalhadores na democratização da comunicação. A democratização dos meios de comunicação está na pauta do Sindsep de 2015.

 

Fonte: http://sindsep-sp.org.br/sistema/materiais/373/arquivo/jornalagosto-embaixa.pdf