Política

Parasitas

10/02/2020 18:12

O termo cunhado pela biologia, parasita, segundo o Michaelis, "diz-se de ou organismo que vive em outro organismo (hospedeiro), dele retirando seu alimento e geralmente causando-lhe dano". E ainda, pejorativamente, "diz-se de ou pessoa que não trabalha, ociosa e indolente e que vive à custa alheia; chupa-sangue, comedor, desfrutador, esponja, gandulo, gaudério, godero, inútil, pançudo, sanguessuga, vagabundo, zângano". 
 
 
O mesmo nome é dado como título ao filme sul-coreano ganhador do Oscar 2020. Para o premiado como melhor diretor, Bong Joon-ho, a escolha do nome chegou a ser considerada arriscada pela equipe de produção, já que poderia parecer óbvia a referência à família pobre que protagoniza o filme, que se infiltra e invade a casa rica. Mas afirma que o significado é ambíguo, pois o mesmo poderia se aplicar à família rica, uma vez que não conseguem lavar louça, dirigir carros e drenam o trabalho da família pobre. O filme com drama, suspense e tragicomédia, expõe facetas da sociedade sul coreana pouco conhecidas, que explicitam as contradições da rápida ascensão capitalista daquele país que produziram imensas desigualdades que chocam o expectador logo do início. Se há ambiguidade sobre quem explora quem na trama, a mensagem é clara quanto aos limites da mobilidade social no modelo capitalista neoliberal que prega que ascensão social é uma questão de meritocracia.
 
 
Já para Paulo Guedes, conforme palestrou em um seminário promovido pela Faculdade Getúlio Vargas, parasitas é um termo que pode ser aplicado aos funcionários públicos por reivindicarem reajustes em meio à crise fiscal que deixou as contas brasileiras no vermelho, se aproveitando de um “hospedeiro que está morrendo", informou o Correio Brasiliense. A fala é para construir a narrativa para justificar as PECs da dupla Bolsonaro/Guedes que pretendem reduzir salário, congelar carreiras e acabar com a estabilidade dos servidores, bem como acabar com fundos como o do FUNDEB, e reduzir ainda mais os gastos com políticas públicas. No mesmo passo que pretendem ampliar com os cortes em educação, saúde e previdência, transferirão tais recursos ao pagamento da dívida pública que em 2019 bateu novo recorde, chegando a R$ 4,24 trilhões. 
 
 
Segundo a associação Auditoria Cidadã da Dívida, que tem como objetivo realizar, de forma cidadã, auditoria da dívida pública brasileira, interna e externa, federal, estaduais e municipais, prevista no artigo 26 do ADCT da Constituição Federal de 1988, os principais beneficiários da dívida interna que consome mais de 40% das despesas da União, são os grandes bancos, investidores nacionais e estrangeiros. 
 
 
Em Davos, Guedes culpou a pobreza e os pobres pela destruição do meio ambiente. Foi uma maneira de justificar o desmatamento na Amazônia para abrir pastos e plantios e, a liberação de agrotóxicos promovidos por Bolsonaro. Lembremos que o agronegócio aumentou o preço da carne para o consumo interno da população empobrecida de brasileiros para exportar mais com dólar alto para países ricos. 
 
 
Em novembro, disse ao Jornal Folha de São Paulo que o pobre não poupa e consome tudo o que ganha, enquanto os ricos capitalizam os recursos. Paulo Guedes, o Posto Ipiranga, segundo Bolsonaro que não entende de economia, foi professor de economia na Universidade do Chile na década de 1980 e produzia as teses econômicas para o governo do Ditador Pinochet, como foi o caso da previdência capitalizada, que nos últimos anos elevou a taxa de suicídios entre idosos chilenos. Enquanto isso, naquele momento, a ditadura matava e torturava milhares. Sobre esse fato, Guedes afirmou que, do ponto de vista intelectual, isso era irrelevante. Mais de 30 anos depois, milhões de chilenos têm ocupado as ruas nos últimos meses contra a política que empobreceu a população por décadas, e com medo que o mesmo venha acontecer por aqui, naturalizou a evocação do AI-5 feita por Eduardo Bolsonaro.
 
 
Guedes fez fortuna atuando no setor financeiro, apostando contra ou a favor das políticas econômicas nos diversos governos, conta reportagem da Folha de São Paulo em 2018. Fundou o banco Pactual BTG, conforme Ladislau Dowbor escreveu para o Le Monde Diplomatique - Brasil em abril do ano passado, o Pactual possuía quase 40 filiais em paraísos fiscais. Explicou o economista que "não é ilegal ter filiais em paraísos fiscais, mas serve essencialmente para especulação, evasão fiscal, lavagem de dinheiro e acobertamento de corrupção, tanto de empresas como de pessoas físicas", deixando claro o perfil de atividades do banco. Para Dowbor, o que o Pactual faz é gestão de fortunas, ajudando os muito ricos a ganhar mais dinheiro com dinheiro, não se tratando, de desenvolver atividades produtivas, mas de drená-las. Ao falar das raízes do super-ministro, afirma que ele "navega na solidariedade com os interesses financeiros. Passar a previdência para o controle dos bancos privados, desvincular as receitas do Estado para que possam se apropriar do financiamento da educação, saúde e outras políticas sociais, buscar a apropriação da gestão do FGTS – tudo em nome de reduzir o déficit do Estado, aumentando o rombo que precisamente os bancos geram, é bastante coerente."
 
 
Segundo o deputado Paulo Ramos, do PDT do Rio de Janeiro, declarou para a Carta Capital em janeiro, "É um infiltrado na máquina pública. Fez uma aliança com o capital e tem desenvolvido políticas públicas para essas alianças que construiu em seus negócios privados durante a vida”. O Deputado encaminhou denúncia à Procuradoria-Geral da República, que pede investigação à Procuradoria no Distrito Federal, ao Tribunal de Contas da União e à Comissão de Ética Pública para "provar que o ministro é sócio oculto de empresas e fundos beneficiados por decisões do governo", conta matéria da revista online. E segundo ainda, a revista Fórum, a Pactual "registrou um salto de 50,2% no lucro líquido no segundo trimestre de 2019, com ganhos de 1,029 bilhão de reais, ante 685 milhões de reais um ano antes".
 
 
Paulo Guedes responde a inquérito instaurado pela Polícia Federal que apura se o economista cometeu irregularidades na gestão financeira de fundos de investimento que teriam gerado lucros excessivos a Guedes, cujas empresas receberam recursos dos fundos de pensão de servidores e trabalhadores de estatais e empresas públicas como Caixa, Banco do Brasil, Correios e Petrobrás. 
 
 
Em 2018, durante a campanha de Bolsonaro, a Lava Jato denunciou 18 pessoas, mas não Paulo Guedes, mesmo tendo uma de suas empresas, GPG, participado de um esquema de lavagem de dinheiro, segundo a denúncia, por pagar meio milhão de reais a uma empresa de fachada operada por um assessor do ex-governador do Paraná, Beto Richa do PSDB, registra a matéria do site Brasil de Fato.
 
 
Diferente do roteiro que ganhou o Oscar, o roteiro escrito em 2018 e encenado a partir de janeiro de 2019 no planalto central não deixa ambiguidade quanto a compreender quem são os parasitas e quem são os hospedeiros. Cabe aos servidores atuar em seu papel para mudar o final desse filme, que caso contrário, cumpre um destino trágico.  No dia 18 de março, estaremos nas ruas em greve. E esse não deverá ser o fim do enredo, mas só o começo.
 
 
Sérgio Antiqueira, presidente do Sindsep - Sindicato dos Trabalhadores na Administração Pública e Autarquias no Município de São Paulo e coordenador do Macro Setor do Serviço Público da CUT-SP.