Saúde

Pacientes esperam até 4h dentro de ambulâncias para atendimento no Hospital M´Boi Mirim

06/12/2022 09:23

Alguns tiveram quadro agravado pela demora da emergência do hospital gerenciado pela OSS Cejam.

Por Cecília Figueiredo, do Sindsep


 

Paciente é observado pela equipe do SAMU no pátio do hospital. | Reprodução de vídeo enviado ao Sindsep
 
 
 
 
Pacientes que chegam ao Hospital Municipal M´Boi Mirim – Dr. Moysés Deutsch trazidos pelo SAMU ou removidos por ambulâncias contratadas já tiveram que esperar até 4 horas antes de ter autorizada a entrada dentro da emergência.
 
O fluxo para atendimento de pacientes que chegam de ambulância ao hospital, sob gestão da CEJAM (Centro de Estudos e Pesquisas Dr. João Amorim) em parceria com Hospital Israelita Albert Einstein, vem desde meados do primeiro semestre desse ano, estimam os profissionais do SAMU. O que tem gerado atraso de ambulâncias para outras emergências na cidade e, o que é pior, colocado em risco a vida dos pacientes. 
 
A média de espera para autorizar um paciente que chega de ambulância varia entre 40 minutos e 4 horas ao Hospital Municipal M´Boi Mirim, de acordo com apuração de Douglas Cardozo, coordenador de Região Sul 1 do Sindsep. 
 
“Antigamente, quando as ambulâncias do SAMU ou de transferências chegavam ao HM M´Boi Mirim, o paciente era classificado dentro da ambulância, desembarcado e aguardava dentro do hospital. Esse fluxo foi mudado. A entrada de pronto socorro passou a ser no fundo do hospital, onde a ambulância estaciona. Aí o profissional da ambulância vai e comunica à emergência o estado do paciente. Um profissional da enfermagem vai até a ambulância, faz uma avaliação rápida do paciente e poderá autorizar ou não o imediato desembarque. Enquanto não é autorizada a entrada, a equipe do SAMU ou da ambulância de remoção é quem fica responsável por ‘cuidar´ da pessoa. Teve casos em que o hospital demorou até 4 horas para autorizar”, esclarece o dirigente do Sindsep.
 
Um profissional do SAMU, que pede para ter preservada sua identidade, relatou que a mudança no fluxo de atendimento do hospital começou a ser sentida a partir de maio, período em que houve um abrandamento no número de casos de Covid.

“Principalmente após iniciar a reforma do Hospital Municipal do Campo Limpo, o Hospital do M´Boi se tornou referência e a demora tem sido muito grande. Semanas atrás, após colegas fazerem ouvidorias junto à OS do hospital, foi dito que não haveria mais demora no atendimento de pacientes que chegam em ambulâncias. Não posso confirmar porque tenho atendido a outra área”.
 
O fluxo normal em outros hospitais prevê a chegada da ambulância, desembarque do paciente, a classificação de risco dentro do pronto socorro, preenchimento da ficha e atendimento pela equipe do pronto socorro.

“Hoje, enquanto um profissional do hospital não classificar a situação do paciente e não autorizar sua entrada, ele fica dentro da ambulância”, reforça o samuzeiro que não quer ser identificado.
 
Diante de uma situação grave e da espera superior a 2 horas, um trabalhador do SAMU acabou entrando em conflito com colegas da emergência para preservar a vida da paciente. 
 
“Chegamos no domingo, 13 de novembro, às 19h13, no Hospital do M´Boi, com uma paciente em estado crítico e ela começou a ser atendida às 21h37. Socorrida em suporte avançado, a pessoa precisava de outros recursos que somente um hospital tem. Conversei com a equipe do hospital, que informou que havia superlotação e a paciente não seria atendida naquele momento. Disse também que naquele dia a última equipe [SAMU] que havia chegado em seu plantão foi às 22h e atendido às 3h da madrugada, portanto a paciente deveria aguardar na ambulância se quisesse”. O profissional do SAMU pediu então apoio da Polícia Militar, mas foi a GCM quem compareceu ao local.
 
Segundo ele, os agentes da GCM não interpretaram ali uma omissão de socorro e tomaram partido da equipe do Cejam, que justificava a superlotação. Nesse momento, o trabalhador desembarcou a paciente e ingressou com a maca ao pronto socorro.
 
“Um enfermeiro me xingou de ‘lixo´ e disse que não deveríamos estar atendendo. Disse que eu estava irregular, que chamaria a polícia para me levar preso e tentou empurrar a maca com o paciente para fora do hospital. Não deixei”, disse o trabalhador.
 
Em meio a ataques verbais e tentativa de agressão física contra o profissional do SAMU, a paciente acabou chegando ao atendimento da emergência. Em seguida, a vítima das agressões fez uma ouvidoria junto a Cejam e depois foi chamado a uma reunião pelo diretor do hospital, Gustavo.
 
“O diretor do hospital admitiu que a conduta foi inadequada por parte da equipe da emergência e que seria alterado o fluxo de atendimento. Dois dias depois estive lá socorrendo outro paciente e aguardamos 20 minutos, mas até agora nada foi feito em relação às ameaças e xingamentos que recebi”, relata o profissional que denunciou a ocorrência.
 
Outras equipes do SAMU continuam enfrentando horas para entrar com paciente. “Teve uma equipe que chegou ontem [29/11] às 17h45 e somente às 19h45 a enfermagem foi até a ambulância fazer a triagem”, relata o trabalhador.
 
No último domingo (4/12), uma vítima de colisão entre carro e moto, em Paraisópolis, chegou ao Hospital Municipal M´Boi às 11h20 e somente após 1h40 aguardando dentro da ambulância começou a ser atendida no Pronto Socorro do Hospital M´Boi Mirim. "Todos os dias acontece isso e ninguém toma providências", reclama outro trabalhador, que prefere se manter no anonimato. 





 

Propagandas no site do hospital bem distantes da realidade
 
 
 
Douglas Cardozo acrescenta que já houve caso de paciente que teve rebaixamento dentro da ambulância devido à demora. “O estado de um paciente se agravou, segundo os trabalhadores nos relataram, e o socorrista teve que fazer as manobras de ressuscitação na ambulância, na porta do hospital. Há também pacientes acidentados com politraumatismo que foram mantidos dentro da ambulância por muito tempo até que o hospital admitisse a entrada”.
 
A situação, que vem sendo acompanhada pelo Sindsep, será encaminhada formalmente ao Conselho Municipal de Saúde para que a Secretaria Municipal de Saúde se pronuncie e tome providências.

"É respnsabilidade da Secretaria Municipal de Saúde determinar que a OSS Cejam tome todas as
 providências necessárias para a plena estruturação da Política Nacional de Atenção às Urgências instituída pelo Ministério da Saúde. Cejam não pode, em hipótese alguma, mudar uma Política de Estado conforme sua vontade", reforça Flavia Anunciação, secretária de Trabalhadoras(es) da Saúde do Sindsep e integrante do Conselho Municipal de Saúde.


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