Durante o ato, neste sábado (25), em frente ao Hospital Municipal Tide Setúbal, em São Miguel Paulista, em homenagem ao auxiliar de enfermagem Eduardo Gomes da Silva e os médicos ortopedistas Jaime Takeo Matsumoto e Elismar Almeida Amador, que perderam suas vidas no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus, o Sindsep foi surpreendido com a notícia de mais óbitos de profissionais da região Leste e também com a perseguição da gestão municipal a profissionais do Hospital Municipal Carmino Caricchio (Tatuapé), por denunciarem a falta de equipamentos de proteção individual para trabalhar.
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“É um momento de homenagem e despedida a trabalhadores do Hospital Tide Setúbal, mas também de profissionais que morreram no enfrentamento ao coronavírus em toda a cidade, que estão muito assustados e ainda precisam lidar com a arbitrariedade do governo que fez remoções ‘ex officio’ para cercear o direito de manifestação. Embora essa tentativa de calar os trabalhadores assuste, a resposta dos trabalhadores foi convidar familiares dos profissionais que faleceram e lembrar ao prefeito Bruno Covas e ao secretário de Saúde Edson Aparecido, que não iremos nos calar”, avisou o vice-presidente do Sindsep, João Gabriel Buonavita, ao reforçar que o momento é de tristeza, mas também de revolta à Lei da Mordaça, revogada em 2009.
Até o início da tarde deste sábado (25), o Sindsep já contabilizava 22 profissionais que perderam suas vidas em equipamentos públicos estaduais e municipais. Na rede municipal eles são 19 até onde tivemos informações. Samuel Modesto Gariroba, controlador de acesso da Assistência Médica Ambulatorial (AMA)/Unidade Básica de Saúde (UBS) Integrada Chácara Cruzeiro do Sul "Zélia L. M. Doro", e Suzana Aparecida Vital, médica da UBS Vila Esperança "Dr. Cássio Bittencourt Filho", na zona Leste.
Segundo Buonavita, não apenas os trabalhadores da Saúde, mas da Assistência Social, Segurança Pública, Serviço Funerário, Educação, Subprefeituras e das demais pastas querem ter garantido o direito de trabalhar e voltar para casa. “É um grito de socorro e luta”, acrescentou Gabriel.
Conforme as portarias (536, 537, 538, 540 e 541/2020) publicadas em Diário Oficial da Cidade (DOC) deste sábado (25), a Prefeitura de São Paulo, por meio da Autarquia Hospitalar Municipal (AHM), transferiu sem notificação prévia cinco profissionais da enfermagem do Hospital do Tatuapé, onde há não apenas a precariedade na situação de equipamentos de proteção individual (EPI), insumos e estrutura, mas o adoecimento/afastamento e óbitos de vários profissionais de saúde. Serilene Dias dos Santos foi removida para o Hospital Municipal Dr. Ignácio Proença de Gouvea (Mooca), Gilton de Oliveira para o Hospital Municipal Prof. Dr. Waldomiro de Paula (Itaquera), assim como a Gilvania Torres Barbosa. Já Leonardo Conceição Nunes foi transferido para o Hospital Municipal Tide Setúbal e Cicero da Silva Sales para o Hospital Municipal Fernando Mauro Pires da Rocha (Campo Limpo), 32 quilômetros distante de onde trabalhava.
Para todos os casos, as justificativas da AHM se repetem: “necessidade de otimizar a força de trabalho existente nas unidades” e “o déficit de pessoal” nos cargos de analista de Saúde, assistente de Saúde e assistente técnico de Saúde, um problema que também atinge em larga escala a unidade do Tatuapé.
“Viemos aqui para prestar uma homenagem aos médicos Jaime Takeo Matsumoto e Elismar Almeida Amador e o auxiliar de enfermagem Eduardo Gomes da Silva, mas também para exigir que o governo Bruno Covas garanta os EPIs de qualidade para todos os profissionais de saúde, porque não queremos mais realizar esse tipo de homenagem. Também denunciamos mais uma opressão do governo Covas ao perseguir os profissionais do Hospital Tatuapé que foram removidos em razão de se manifestarem por melhores condições de trabalho”, afirmou o dirigente do Sindsep, Charles de Jesus, coordenador da Região Leste I, ao lado da diretora Lucianne Tahan e outros dirigentes do sindicato que também renderam homenagem aos profissionais que morreram do Hospital de Pirituba e outras unidades da região Noroeste.

O coordenador da Região Leste III pelo Sindsep, Alexandre Giannecchini, disse que estabelecer o luto de 3 dias como faz o governo Bruno Covas é insuficiente. “Não adianta decretar luto se não faz a sua parte como gestor da cidade, não garante EPI para os profissionais trabalharem. A gente tem que ficar muito atento a esses atos do prefeito e do secretário Edson Aparecido, pois ficam comovidos mas não garantem equipamentos necessários aos profissionais atenderem à população em segurança”.
Outra trabalhadora do hospital, vítima de covid-19, que esteve internada no início do mês e conseguiu se recuperar, teme ainda pela situação de insegurança no trabalho e fala da tristeza e saudades da família, que está há um mês sem ver.
Tristeza e revolta
Num misto de tristeza e revolta, trazidas em faixas e nas falas, profissionais de saúde do hospital, dirigentes do Sindsep, a representante do Movimento Popular de Saúde da Zona Leste, Cláudia Afonso, e a esposa de Eduardo Gomes da Silva, Rosemary Alves Martins, deram uma salva de palmas e depositaram flores ao pé de cada cruz simbolizando as perdas dos profissionais que se foram na guerra à pandemia.
"A maior reclamação dele era falta de EPI, o que a gente está cobrando aqui", contou Rosemary Alves Martins, viúva de Eduardo Gomes da Silva. | Fotos: Cecília Figueiredo
“A maior reclamação dele era falta de EPI, que é o que a gente está cobrando. O Eduardo veio trabalhar no domingo saudável, na segunda começou a ter febre e na quarta veio, já ficou na UTI e não saiu mais”, relatou Rosemary, a viúva de Eduardo Gomes da Silva que morreu em 31 de março e teve atestado como causa da morte insuficiência respiratória. Indignada, Rose denuncia a mentira do governo do Estado em anunciar o fim da fila de exames para covid-19, “o exame dele não saiu até agora”.
Maciel Nascimento, secretário de Trabalhadores da Educação do Sindsep, criticou ainda a falta de proteção aos trabalhadores que estão à frente dos Cras, Creas, Serviço Funerário, e de políticas públicas. “A ajuda básica à população deveria passar pela assistência social da Prefeitura de São Paulo e esses trabalhadores têm dificuldade de desenvolver seu trabalho por conta da ausência da administração pública. Se olharmos o que tem sido feito no Serviço Funerário também são lastimávelis as condições inapropriadas para os agentes desenolverem o seu trabalho. O prefeito publicou o Plano de Contingenciamento ao Serviço Funerário, mas não consegue desenvolver um plano de ação mínimo aos trabalhadores de sepultamentos, com a abertura de não sei quantas mil covas”.
Ele também criticou a insensibilidade do secretário de Educação, diante dos pleitos apresentados pelos representantes dos trabalhadores, como o de promoção de um debate com quem pensa a Educação na cidade, para encontrar saídas.
“Tivemos 18 mil profissionais, desde que foi decretada a Situação de Emergência, estão circulando na cidade apenas para abrir e fechar escolas e nosso pleito é de que todo e qualquer contato de gestores e trabalhadores se desse de forma virtual, mas insensível a isso já começamos a ter falecimentos de agentes de apoio, professores, vigias… Estamos olhando de forma global a postura do governo a todos os profissionais do serviço público”, alertou Nascimento.