Saúde

Prefeitura não repõe uniformes de socorrista do Samu há mais de três anos

16/06/2020 16:26

'Se chover, ficarei com os pés molhados porque a bota está rasgada. Se precisar trocar o macacão por uma intercorrência, não tem. Faz uns cinco anos que não recebemos macacão. Tenho esse único que estou usando, porque o outro rasgou e não tinha como trabalhar com ele rasgado, aí arrumaram um na Base', diz o auxiliar do Samu da região Sul da cidade de São Paulo.

Depois que o Sindsep denunciou, por meio de matéria, a situação de equipamentos de proteção individual, outros trabalhadores enviaram imagens e relatos que reforçam a falta de reposição do material de segurança para os funcionários do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) em São Paulo.
 
Um dos trabalhadores do Samu na região Sul da cidade de São Paulo disse que o último fornecimento de botas foi há mais de dois anos e que aproximadamente três meses vem questionando a gerência. “Há um mês começou a rasgar, na semana passada abriu na lateral. Agora, o buraco na bota deixa quatro dedos pra fora", disse. 
 
A coordenação deu prazo até o final de junho para fornecer um novo par ao socorrista. "Até lá serei obrigado a trabalhar de tênis”, o que está fora do protocolo.
 
 
Situação das botas do auxiliar de enfermagem do Samu; troca não ocorre há quase 3 anos.
 
Os equipamentos de proteção individual (EPI) são os que garantem a segurança dos profissionais no atendimento que ocorre em áreas de vulnerabilidade e risco. Porém, o problema dos uniformes não se restringe à falta de botas. “Se chover, ficarei com os pés molhados porque a bota está rasgada. Se precisar trocar o macacão por uma intercorrência, não tem. Faz uns cinco anos que não recebemos macacão. Tenho esse único que estou usando, porque o outro rasgou e não tinha como trabalhar com ele rasgado, aí arrumaram um na Base. Tive também que comprar a blusa de frio”, denuncia.
 
Recentemente os equipamentos de proteção individual para o atendimento de Covid-19 passaram a ser dispensados semanalmente, segundo o profissional. “Não recebemos o propé apenas”, ao referir-se ao kit de EPI definido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para socorristas, que inclui avental impermeável, luva, gorro, máscara N95, propé e os óculos de proteção ou protetor facial.
 
A falta de comprometimento da administração municipal com a vida do profissional de saúde vem acumulando registros de contaminação e mortes.  
 
"Faz tempo que a administração do Samu não tem um histórico de respeito com seus trabalhadores. Desde a portaria que acabou com as bases do Samu e jogou as equipes em hospitais, UBS, AMA e outros serviços, espaços sem estrutura adequada, passando pela falta de água nas bases, ocorrida em 2018, chegando à falta de reposição de uniformes há dois, três, cinco anos; isso tudo prova o desrespeito a esse atendimento tão essencial. Os trabalhadores do SAMU devem denunciar toda e qualquer violação de direitos dos trabalhadores", disse a secretária de Trabalhadores da Saúde do Sindsep, Lourdes Estêvão.
 
A falta de compromisso com a vida dos profissionais que estão na guerra contra o coronavírus é o que tem motivado o Sindsep a realizar atos, protestos e ações na Justiça contra a Prefeitura de São Paulo. Nesta quarta-feira (17), o sindicato estará junto com outras entidades em mais uma manifestação simbólica. Desta vez, em frente ao gabinete do prefeito de São Paulo Bruno Covas, para protestar contra a flexibilização do isolamento social e uma pauta de reivindicações em favor das condições de trabalho e saúde dos trabalhadores de áreas essenciais que estão enfrentando a pandemia sem apoio do Poder Público.
 
O Sindsep está convencido que a FLEXIBILIZAÇÃO do ISOLAMENTO SOCIAL terá um impacto perverso na saúde da população, consequentemente na saúde e na vida dos(as) trabalhadores(as).
 
 
Por isso exige:
 
• Equipamentos de Proteção Individual (EPI) para todos trabalhadores e trabalhadoras;
 
• Testes confiáveis para a Covid-19;
 
• Reconhecimento da Covid-19 como doença ocupacional;
 
• Afastamento médico imediato para os/as trabalhadores/as com suspeita ou confirmação de Covid-19;
 
• Garantia de descanso aos(às) trabalhadores(as) das áreas essenciais;
 
• Não ao corte de salários dos servidores públicos;
 
• Fim da política de terceirização e organizações sociais (OS);
 
• Não às demissões;
 
• Fora Bolsonaro e os inimigos dos(as) trabalhadores(as) que querem flexibilizar o isolamento social.