Unidade Básica de Saúde Almirante Dellamare, em Heliópolis, não tem clínico-geral, interrompe consulta pela chuva dentro de consultório e aguarda melhorias há um ano, segundo usuários ouvidos em reportagem
Recentemente, a Unidade Básica de Saúde (UBS) Almirante Dellamare, em Heliópolis, zona Sul, protagonizou por dois dias seguidos reportagens do SP 1, na tevê Globo, pelos problemas estruturais que se arrastam há mais de ano. O forro de um dos consultórios que desabou e o forte volume de chuvas dentro de um dos consultórios obrigou o profissional médico a interromper a consulta, devido à calamidade. Prontuários foram atingidos pela chuva dentro do consultório.
Embora a prefeitura tenha alegado que a proprietária do imóvel não permitia reformas, parente da proprietária desmentiu a história, na reportagem do dia seguinte. Não bastasse os problemas estruturais que aumentam a cada dia, no final de fevereiro, usuários reclamavam da falta de clínico-geral, sem previsão de reposição, e da falta de agendamento para dentista.
A reportagem da Globo obteve uma série de promessas da Prefeitura de São Paulo. No entanto, salta aos olhos a omissão, no primeiro dia que a denúncia foi mostrada, de uma informação relevante: a UBS Almirante Dellamare está sob a gestão da Organização Social de Saúde Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina – Programa de Atenção Integral à Saúde (SPDM/PAIS), aquela que movimentou R$ 22,9 bilhões entre 2009 e 2014, conforme estudo da Universidade Federal de Pernambuco (2018).
A SPDM foi afastada no final de 2019 da gestão do Samu Santa Catarina, por atraso de pagamentos e outras irregularidades e para quem está sendo entregue o Samu de São Paulo. A organização social que, da mesma forma que as demais, é contratada e paga para fazer o que não está fazendo: reformas, contratação de pessoal, ou seja, gerenciamento do serviço.
Porém, nada disso é questionado. Somente no segundo dia em que esteve na UBS em Heliópolis, a reportagem menciona a OSS que gerencia, mas mistura as informações ao mostrar uma outra unidade também na zona Sul, a UBS Vitório Rolando Boccalletti (Vila Praia). A UBS Vila Praia está ameaçada de ser entregue pela gestão Covas/Doria para a OSS Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Hospital Albert Einstein (SBIBAE). Ela é uma das 70 em São Paulo que está sob a administração direta, com servidores concursados e que apresentou como problemas: dois papelões substituindo a falta de vidros em uma janela e uma porta, forro do teto danificado, pixações na parede externa e uma usuária reclamando que a farmácia nem sempre está aberta para atender a usuários.
Imagem mostrada da área externa da UBS Vila Praia
Em janeiro passado, a UBS Vila Praia teve problemas de goteira na sala de vacinas, trabalhadores denunciaram e a administração fez os consertos em menos de uma semana. Isso não foi mostrado também.
A reportagem também não questionou em nenhum momento funcionários do serviço e usuários sobre a ameaça de privatização da unidade. Ainda que um abaixo-assinado com cerca de 3 mil assinaturas esteja circulando na internet, manifestando a opinião contrária de conselheiros, trabalhadores e população sobre a transferência da unidade para a gestão da OSS.
"Nós, abaixo assinados, oferecemos nosso apoio para a permanência dos funcionários estatutários da Unidade Básica de Saúde - Dr. Vitorio Rolando Boccaletti (Ubs Vila Praia) onde são lotados. A Administração Municipal em reuniões com os servidores, comunidade e conselho gestor vem informando que a municipalidade está impedida de garantir a continuidade dos serviços da Atenção Básica na Ubs Vila Praia, por causa da aposentadoria desses servidores, e que a única solução é a transferência da Unidade para um convênio (privatização/terceirização)", diz um dos trechos do manifesto digital.
A matéria traz a resposta da prefeitura, "que a UBS iniciará reformas em 45 dias, porque passará a ser administrada pelo Hospital Albert Einstein".
De acordo com um dos funcionários da UBS e representante sindical de unidade (RSU), José Antonio, está ocorrendo manipulação da gestão para obter apoio na votação de transferência do serviço para a OSS Albert Einstein, além de pressão psicológica sobre os representantes do segmento trabalhador, troca de favores e o condicionamento de reforma à transferência do serviço para a OSS.
Voltando à UBS Almirante Dellamare, em Heliópolis, gerenciada pela SPDM, cabe lembrar que a própria Globo mostrou em seu SP1 que o "parceiro" está há mais de um ano para realizar a reforma e colocar equipe no serviço. Não há multas? Somente penalizações para população e trabalhadores?
Privatizar para agradar a quem?