Por Cecília Figueiredo, do Sindsep
Luzia Barbosa faz abertura da roda de conversa na Sehab. | Foto: Cecília Figueiredo/Sindsep
Servidoras(es) da Secretaria Municipal de Habitação (Sehab) participaram, na tarde de quarta-feira (19/10), da roda de conversa sobre “Conflitos interpessoais, violências institucionais, assédio moral e organizacional”. Organizado pela Secretaria de Saúde do Trabalhador do Sindsep, em conjunto com a coordenadora da Região Centro, Luzia Barbosa, servidora da Sehab, a atividade teve também as participações de dirigentes, Ejivaldo Espírito Santo (Saúde do Trabalhador) e Maria Mota (assistente social, vice-presidenta do Comas e coordenadora da Região Sudeste do Sindsep) e pedidos já para uma próxima edição.
Para iniciar o papo, a psicóloga do Trabalho no Sindsep, Carolina de Moura Grando e o psicólogo Thiago Lira, especialista em Saúde Mental Relacionada ao Trabalho, abordaram as diversas formas de violência que levam ao adoecimento, seja por meio da depressão, ansiedade, estresse ou outros males cometidos no ambiente de trabalho.
Por meio de exemplos cotidianos, Thiago enfatizou que violências devem ser combatidas independente de caracterizarem um assédio moral. “Não é porque não configura uma situação de assédio moral, que é sempre sistemático e prolongado, que não deva ser enfrentada". Ao acrescentar que "o assédio pode ser um ato, uma fala, por escrito; uma conduta que irá atingir a dignidade do trabalhador".
Por se tratar de algo subjetivo, o psicólogo sugeriu algumas pistas para identificar esse tipo de violência do trabalho. “Privação de informações, de instrumentos para desempenhar o trabalho, de apoio, deterioração das condições de trabalho”, são algumas das práticas assediadoras que desdobrarão em problemas físicos relacionados à saúde mental do servidor. Posteriormente, elencou algumas situações de assédio organizacional utilizados para controle dos(as) trabalhadores(as).
O representante sindical de unidade (RSU) do Sindsep, Enderson Santos Oliveira, destacou a perversidade da superexploração do servidor para não deixar o munícipe na mão. A falta de concurso, leva o servidor a trabalhar um tempo bem maior para suprir a falha que é da prefeitura.
“O adoecimento decorrente da violência institucional pode paralisar o servidor público e a entidade sindical deve estar muito atenta e buscar alternativas para auxiliar”, afirmou Ejivaldo Espírito Santo, secretário de Saúde do Trabalhador.
Segundo Luzia Barbosa, o problema de assédio e outras violências são demandas antigas que vêm afetando servidores e servidoras. Não à toa, a sala utilizada pela roda de conversa encheu em poucos minutos e reuniu antes mesmo de começar várias servidoras na porta solicitando a inscrição para uma próxima edição. Duas servidoras relataram terem chegado atrasadas, por não terem sido informadas pela chefia de que tinham direito a participar da atividade sindical certificada, no horário do expediente.
Em 30 anos que trabalha na Sehab, Luzia disse que nunca viu tantos colegas sofrendo com síndrome do pânico, depressão, angústia pelo local de trabalho.
“Durante a pandemia não conseguimos encaminhar essa roda de conversa. Este ano, somente após pedidos quase diários durante dois meses no gabinete do secretário e a nomeação das assistentes sociais por força da ação judicial movida pelo Ministério Público, da qual o Sindsep fez parte, conseguimos uma mesa de negociação entre o sindicato e o secretário, para tocar também nessa questão do assédio e foi autorizado para que realizássemos a roda de conversa”.
Várias servidoras e servidores fizeram intervenções abordando o que enfrentam, outros anotavam; mas o que pode ser observado é que havia um conjunto de servidores sedentos/as pela discussão do assunto.
Maria Mota também observou na fala de servidores questões pontuais e ofereceu o atendimento individual. “Para pensarmos juntos estratégias para enfrentar as questões aqui apresentadas”.
A partir do roteiro abordado na cartilha “A política é pública, meu corpo não!”, material distribuído aos(às) participantes, Carolina Grando destacou a importância do enfrentamento às violências estruturais que, em sua analogia, seriam a base do “iceberg", invisíveis e mais difíceis de indentificar do que as violências diretas expostas "na superifície". Abordou, então, as expressões das violências institucionais de gênero, raça e orientação sexual no espaço de trabalho.
“Precisamos primeiramente que a saúde dos trabalhadores seja uma prioridade, assim como a qualidade do serviço oferecido. Precisamos que a atenção esteja voltada para além das relações individuais e que ações estejam acima de trocas de chefia, mas observem a maneira com a qual o trabalho é organizado e avaliado, as condições disponíveis para sua realização e os meios para efetivamente transformá-lo”.
Servidores(as) relataram suas experiências na secretaria e debateram a importância da ação coletiva para enfrentar as situações descritas, porque no caso de estarem sozinhos(as) em seu setor ou departamento poderão encontrar apoio em colegas de outros setores da secretaria. Maria Mota também provocou a reflexão entre os presentes de como cada servidor e servidora pode auxiliar aqueles(as) colegas que vêm enfrentando situações de sofrimento.
"Construção", "solidariedade", "aprendizado" foram alguns dos sentimentos sintetizados pelos(as) servidores(as) do que a roda de conversa promoveu. Luzia Barbosa esclareceu que o Sindsep realizará uma nova reunião para atender aos(às) trabalhadores(as) que não puderam estar presentes.
O encontro também possibilitou a candidatura de uma nova RSU do Nível Médio e a solicitação para que o Sindsep junto com os RSUs elaborem um diagnóstico sobre o assédio, a violência institucional e o racismo na secretaria.