SINDSEP - SP

Sindicato dos Trabalhadores na Administração Pública e Autarquias no Minicípio de São Paulo

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Saúde

02/06/2020 - 09:47

Prefeitura mantém profissionais com Covid-19 trabalhando em hospitais

Sindsep apontou na manhã desta terça (2), durante Mesa Técnica com a Secretaria Municipal de Saúde, as denúncias de trabalhadores que atuam nos hospitais municipais de Campo Limpo, Ermelino Matarazzo, Planalto, Vila Nhocuné, Saboya, João XXIII e HSPM, sobre a falta de testagem e de critérios poucos claros para afastar profissionais.

Por Cecília Figueiredo, do Sindsep
 
 
Profissionais de saúde que atuam nos hospitais municipais de Campo Limpo (Dr. Fernando Mauro Pires da Rocha), Ermelino Matarazzo (Alípio Correa Neto), Planalto (Waldomiro de Paula), Vila Nhocuné (Alexandre Zaio) estão indignados com a desinformação a respeito da testagem e da conduta adotada com relação a trabalhadores que, mesmo após testarem positivo para Covid-19, não foram afastados de suas funções.
 
Em 27 de maio, durante Mesa Técnica, o Sindsep voltou a cobrar a testagem de todos os profissionais de saúde e a Secretaria Municipal de Saúde se comprometeu a disponibilizar os testes a 90 mil trabalhadores da saúde municipal, a partir desta segunda-feira (1º/06). A reivindicação não é inédita. No final de março, a testagem de todos os profissionais foi uma das exigências do Sindsep na Ação Civil Pública apresentada contra a Prefeitura. 
 
Enquanto não houver a testagem e transparência por parte da Prefeitura de São Paulo, o desespero dos profissionais segue, até porque nem equipamentos de proteção individual adequados e em quantidade suficiente existe passados mais de 75 dias da decretação da Situação de Emergência na Cidade de São Paulo decorrente do novo coronavírus.
 
Hospital do Campo Limpo
 
Os testes disponibilizados pelo Hospital Municipal Campo Limpo aos trabalhadores, a partir da semana passada, servem para identificar se o trabalhador que teve os sintomas da Covid-19 ou positivou para coronavírus criou anticorpos. “Esse tipo de teste não identifica se a pessoa está doente no momento da testagem. Se der positivo significa que a pessoa tem anticorpos para o novo coronavírus. Se der negativo significa que não tem anticorpos”, explica o auxiliar de enfermagem, Douglas Cardoso, Representante Sindical de Unidade (RSU) do Sindsep.
 
O comunicado do SESMT, afixado em 26 de maio na unidade do Campo Limpo, vem gerando muita confusão ainda entre profissionais. A circular informa que o teste é para ser aplicado a pessoas que ficaram afastadas por apresentar sintomas da Covid-19 ou tiveram resultado positivo no teste rápido. “Para realizar o teste rápido o trabalhador não pode estar sintomático há 3 dias. Caso apresente alguns dos sintomas da doença, há um risco de dar um falso positivo ou falso negativo”, explica Cardoso. 
 
 
 
 
Tipos de testes
 
De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) a Covid-19 vem sendo detectada por meio de dois tipos de exames principais: detecção do vírus por PCR (Reação em cadeia da Polimerase) e os testes sorológicos (anticorpos presentes no sangue). “O mais preciso é o RT-PCR, realizado por meio da análise de secreções da boca ou do nariz das pessoas. O material é enviado a um laboratório, que usa máquinas especializadas que conseguem identificar a presença de partes do vírus no fluído coletado”, detalha artigo da Fiocruz.
 
Esse teste é capaz de apontar a presença do vírus logo nos primeiros dias da infecção, mas demanda profissional especializado para fazer a coleta da secreção e uma estrutura de laboratórios para analisá-la. De acordo com especialistas é o mais indicado caso haja suspeita de que uma pessoa está enfrentando uma infecção aguda.
 
 
Teste RT-PCR é realizado por meio da análise de secreções coletadas da boca e nariz das pessoas. | Foto: Fiocruz
 
O outro tipo de teste é o rápido, de análise sorológica, executados a partir de uma pequena amostra do sangue da pessoa, e capazes de identificar a presença de anticorpos criados pelo sistema imunológico para combater o coronavírus. Os testes rápidos dosam no sangue os anticorpos, para neutralizar o vírus. Na Covid-19, os anticorpos aparecem por volta de 7 dias após início dos sintomas. Eles são executados a partir de uma pequena amostra do sangue da pessoa, e são capazes de identificar a presença de anticorpos criados pelo sistema imunológico para combater o coronavírus.
 
 
Teste rápido identifica a presença de anticorpos no organismo, a partir de uma pequena amostra do sangue coletada
 
Como o corpo demora cerca de sete dias para desenvolver os anticorpos, pessoas recém-infectadas podem não ser diagnosticadas por esse tipo de teste.
 
De toda forma, nenhum dos dois tipos estavam disponíveis nesta segunda para o conjunto dos trabalhadores do Hospital Municipal do Campo Limpo.
 
 
Hospital de Ermelino Matarazzo
 
A falta de clareza na informação a respeito dos testados positivos, no uso de protocolos e a falta de cuidado com os profissionais, são outros problemas citados por uma trabalhadora do Hospital Municipal Alípio Correa Neto, em Ermelino Matarazzo, que pede para preservar sua identidade. 
 
“Não estão sendo claros com a gente. Uma trabalhadora testou positivo, seguiu trabalhando até sair o resultado do swab [RT-PCR], que demora uns três a quatro dias. Se a infecção for atual, a profissional pode estar contaminando outras pessoas. Precisamos de ajuda! Estamos percebendo funcionários que tiram a máscara pra falar, que tiveram resultado positivo no swab e retornaram ao trabalho cerca de dez dias depois...Os médicos avaliavam que era pouco tempo para retornar. Apesar de alguns não apresentarem sintomas, pode estar transmitindo se o exame foi positivo; e não avisou ao conjunto de funcionários. Estamos sendo postos em risco desnecessário”, relatou a funcionária, que deseja se submeter a um novo exame.
 
Outro problema apontado por ela na unidade é sobre o desconhecimento de critérios utilizados pela direção do hospital para afastar profissionais. “Não é transparente. Pessoas que tiveram exame positivo não foram afastadas. Tem gestantes e pessoas com mais de 60 anos trabalhando em vários setores do hospital. Por outro lado, pessoas próximas da direção foram afastadas, mesmo com resultado negativo do teste”.
 
Hospital Planalto
 
Situação semelhante também é relatada por uma servidora do Hospital Municipal Professor Waldomiro de Paula – Planalto, em Itaquera, zona Leste, que não quer ser identificada. “Em meu plantão 5 profissionais foram afastados por Covid-19”, conta a servidora à Imprensa do Sindsep.
 
Embora não trabalhe direto no isolamento para casos de Covid-19, a servidora conta que muitos pacientes que são atendidos na área onde atua foram diagnosticados com a doença e somente depois do atendimento e manipulação desses pacientes foram detectados. 
 
Uma das colegas da servidora não foi afastada mesmo após o exame ter dado positivo [conforme cópia do documento enviado]. “No dia que ela recorreu ao atendimento do Gripário do Ambulatório Médico Assistencial (AMA) Planalto, apresentava mal-estar, dor de cabeça intensa, dores no corpo, tosse, mas o médico que a atendeu disse que ela estava com uma gripe comum. Nem teste ele solicitou. Ela permaneceu trabalhando no plantão de 12 horas. No plantão seguinte, essa colega recorreu a outro médico de serviço público, que pediu o exame mas não a dispensou até sair o resultado. Isso está em desacordo com protocolo da Coordenação de Vigilância em Saúde [Covisa] e Anvisa”, referindo-se ao protocolo de afastamento para sintomáticos.
 
 
Teste confirma Covid-19 para a profissional que havia sido diagnosticada com uma "gripe" e mantida no plantão de 12 horas.
 
Somente o resultado do exame positivo para Covid-19, pedido no segundo serviço de atendimento, a funcionária foi afastada. A servidora conta que questionou a direção de enfermagem sobre o ocorrido com a colega, mas esta justificou que não pode interferir na conduta médica. “A conduta está burlando os protocolos sanitários”, reforça a trabalhadora. 
 
Quanto à cobrança de testes, a justificativa é que a prioridade são os funcionários mais velhos e em seguida os demais. “Até entendo, estamos vivendo uma pandemia, mas deixam o funcionário contaminado trabalhar, transmitindo o vírus para os demais profissionais e pacientes. Estamos indignados com o descaso e a forma indigna que estamos sendo tratados”, afirma. A servidora do hospital Planalto, referência para atendimento de casos de Covid-19 diz que a oferta de equipamentos de proteção individual (EPI) já esteve pior, mas admite ainda restrição e pede a ajuda do Sindsep. 
 
Hospital Alexandre Zaio
 
Já no Hospital Municipal Alexandre Zaio, a supervisão da unidade comunicou verbalmente aos profissionais de saúde que os testes “deram erro”, portanto estava restrito aos sintomáticos. Lá, apenas profissionais da supervisão foram submetidos ao teste. “Nos disseram que a gerente de enfermagem que testou positivo e ficou afastada, realizou esse teste rápido e deu negativo, assim como os demais, por isso não seríamos testados”, acrescentou um profissional, que pediu sigilo de sua identidade.
 
Somente em seu plantão haviam 10 profissionais afastados na semana passada: cinco enfermeiros, 4 técnicos de enfermagem e 1 assistente de gestão de políticas públicas (AGPP). “Todos afastados por Covid-19, sem contar os que já se recuperaram e voltaram, que são uns 7. Estamos atualmente com quase metade [dos profissionais] do Zaio afastado por Covid-19. Têm muitos pacientes também internados. Semana passada havia 6 entubados sem vaga de UTI, permaneceram lá 5 dias conosco e três foram a óbito”, disse o técnico ao reivindicar o teste para verificar como estão os níveis de igG/igM [Imunoglobulina G e Imunoglobulina M, anticorpos que o organismo produz quando entra em contato com algum tipo de micro-organismo invasor; teste rápido sorológico] "e trabalharmos tranquilos”.
 
Ele sofre pela falta de entendimento da população com relação à gravidade da pandemia, mas também pela falta de estrutura do serviço. Falta de recursos humanos, bombas de infusão, respiradores e a testagem, são citados como os maiores problemas em sua unidade. “É muito, muito arrasador isso tudo, e a negligência dos governos. Acho que eles têm medo de testar os funcionários porque sabem que muitos serão positivos”, diz o técnico.  
 
Segundo ele, outros colegas da enfermagem que trabalham no Hospital Municipal Dr. Artur Ribeiro de Saboya, no Jabaquara, zona Sul, no Hospital Municipal Dr. Ignácio de Proença Gouveia - João XXIII, na Mooca, zona Leste, e Hospital do Servidor Público Municipal (HSPM), no centro, também reclamam da falta de testagem.
 
Sindsep
 
O Sindsep apontou nesta terça (2), em reunião da Mesa Técnica com a Secretaria Municipal de Saúde, as denúncias feitas por profissionais de saúde sobre a falta de testagem. De acordo com a pasta, os testes estão acontecendo nas unidades.

"No entanto, a Secretaria Municipal de Saúde se contradiz mais uma vez, informando que estão disponíveis 2.300 testes PCR por dia nas autarquias, tanto para pacientes quanto funcionários e que seria para trabalhadores sintomáticos. O secretário Edson Aparecido divulgou, por meio da imprensa, que 90 mil trabalhadores seriam testados, e a secretária-adjunta, na reunião da mesa técnica da semana passada confirmou que todos os trabalhadores da saúde seriam testados, sem critério de apresentar sintoma ou não. Segundo ela, 30 mil testes já haviam sido feitos com 10 mil trabalhadores positivos. Informação omitida pela secretária nos boletins epidemiológicos. Também não respondeu ao Sindsep se as testagense serviriam a alguma intervenção ou se houve alguma medida adotada diante de um índice tão grande de trabalhadores infectados, 33%", detalhou Sérgio Antiqueira, presidente do Sindsep.

Além de notificar a Secretaria Municipal de Saúde, o Sindsep irá encaminhar as denúncias dos profissionais ao Ministério Público.
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